quinta-feira, 15 de julho de 2010

O controle secreto

Inglaterra, paraíso único, lugar predileto de quem vive entre pesquisas e quer isolar-se. Com Feliciano não foi diferente, também optou por aquele país, mais precisamente por Mockba, uma cidadezinha afastada de tudo e fantástica por seus castelos.
Estava nevando, o chão coberto de flocos, os pinheiros verdinhos misturados com o branco. Apenas um ônibus vazio passando, os galhos sem nenhuma flor e, logo ali, mais atrás, o castelo enigmático, onde ninguém entrava por falta de coragem; nem tinha permissão para isso.
O castelo, que tinha muitas torres, chamava a atenção por uma delas, a mais alta e de onde saíam luzes, fumaças e cheiros inexplicáveis. Ninguém sabia o que ocorria por lá.
Entre o mercúrio, o sal e o enxofre, misticamente vestido de branco, aquele alquimista não se afastava de seus afazeres. Talvez aquela determinada tarde ensolarada, em contradição com a neve, de completa visibilidade e o céu azul como nunca, significasse, como todas as outras, algo de muito importante e merecedor de todo e qualquer preparativo.
A luz, emitida pelo sol, invadia a torre de seu castelo e inundava o lugar com a incompatível energia cósmica. Suas barbas de cor branca e suas mãos cansadas expunham a sapiência de séculos. Fez algumas orações, sentado em uma grande almofada que ficava em frente à janela leste. Depois de alguns poucos minutos que, e, inconsciência, podem parecer horas, levantou-se e ergueu suas mãos em reverência ao Uno.
Um cheiro insuportável foi tomando conta e expandindo-se pela cidade. Aos poucos as pessoas foram aparecendo ao redor do castelo, mas demoramos a perceber.
Eu o observava do alto de uma estante com fórmulas, fiquei olhando-o até o momento em que o interrompi:
___ Meu mestre, por que estou vendo lágrimas brilhantes em seu rosto?
Olhou-me indiferente, com um olhar parado e ao mesmo tempo demoníaco:
___Agora eu posso transformar as coisas pelas quais tenho mais estima: o desastre em graça, o perdão em renovação e a fragilidade numa verdadeira fortaleza.
Uma ideia repentinamente ganhou vida!
___ Posso transformar a morte em vida também!
Tentei convencê-lo de que a morte é imutável, mas foi inútil. Estava cego. Desde que sua filhinha e sua mulher morreram ficara meio atordoado.
Foi então que o inevitável aconteceu. As pessoas incomodadas com o cheiro gritavam e clamavam por uma explicação e ele dirigiu-se à janela anunciando:
___ Eu posso tudo o que eu quiser!
As pessoas não entenderam nada e , assim como eu, acabaram sendo vítimas de sua loucura. Frascos explodiram, um atingiu meu olho esquerdo, os produtos químicos espalharam-se. Muitos ficaram cegos, outros surdos e muitos até com problemas mentais.
Hoje, cinco anos depois, bebês nascem sem cérebro e a paisagem que antes era linda, tornou-se macabra. O alquimista morreu por querer ter o poder que apenas Deus tem. O poder pode existir, mas, sem a chave ele não pode ser ativado. Essa chave é a humildade. Apenas ela dará harmonia e controle a essa força.

Carol Freitas

3 comentários:

  1. Incrível, entre em contato comigo por e-mail , tenho alguns trabalhos, gostaria que pudéssemos compartilhar.

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  2. Espero que coloque mais textos como esse, adoro esse estilo de literatura.

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  3. Ca estou adorando ler seus textos, continue escrevendo!! beijos!!

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